Viajar a Bahia é sempre uma viagem gastronômica. Dessa vez lá fui eu redescobrir a Chapada Diamantina. No meio do nada, literalmente, há uma vila, não mais do que isso, conhecida como Capão. Por algum motivo que me foge, meu avô recém aposentado resolveu construir uma casa nessa vila, que é dominada por hippies que envelheceram, mas ainda buscam os mesmos ideais. Que depois desse final de semana, se resumem para mim como paz de espírito e poucas obrigações.
A estrada de barro que leva 40 minutos a partir de Palmeiras, que por sua vez está à uma hora do aeroporto mais próximo, já deixa claro que o local é só para quem quer muito chegar, e que o progresso ainda está longe de querer, ou, nesse caso, de ser desejado por lá. O local tem um visual incrível e modéstia parte, o novo projeto do aposentado é uma casa com uma vista deslumbrante para um vale, que é rodeado por chapadas em ambos os lados, dando a sensação de estarmos navegando em um grande fjord de mar verde.
Ao retornar a uma típica casa de campo da Bahia sou lembrado das delícias da culinária típica. Como uma deliciosa carne seca, ensopada, com abóbora. O sal da carne é balanceado pela doçura da abóbora, completando isso com uma leve farofa douradinha e crocante, temos um clássico dos clássicos da Bahia, sabor de infância para todos os lados.
O ensopado de carneiro também traz uma carne macia que se desmancha no toque do garfo, mais uma vez com a onipresente farofa, enxuga o excesso de molho, que tem um gosto profundo, que segundo os especialistas de lá vem de “rechear a carne”. Também podíamos falar do requeijão, um queijo rústico e excepcionalmente gorduroso, que quando frito transforma o queijo na melhor maneira para encurtar sua trajetória para um enfarte.
A vila, ao contrário do que se pode imaginar, não tem restaurantes charmosos, com bossa de hippie. A vila é simplesmente hippie, mas tem uma interessante pizza de massa integral com cenoura em tirinhas, que quando coberta com um delicioso mel com pimenta, pode ser caracterizado como uma boa experiência gastronômica. O restaurante Canto das Fadas é provavelmente a melhor pedida se quiser charme e comida. Come-se boas massas e pratos italianos, principalmente quando comparamos com a competição local.
Como disse, as experiências são muitas, como o delicioso mel com pimenta – tudo orgânico claro – ou os morangos mais doces que já comi na minha vida, que não levaram nem uma gosta de agrotóxico. Mas nada se compara ao desespero alimentar na volta de uma viagem de 9 horas, que só pode ser saciado com comida de posto. Comi provavelmente a receita mais maligna para pessoas com problemas de coração e tensão alta – meu avô nesse caso – uma farofa de carne seca que estava gordurosa e mais salgada que minha boca podia agüentar, servida em um charmoso compartimento de quentinhas de papel alumínio. Nem sempre, uma experiência é uma de luxo e glamour.
No final das contas, o Capão é um lugar com muito potencial para gerar boas opções de comida orgânica com sabores diferentes, mas ainda está longe de ter uma cena gastronômica de balneário de inverno. No entanto, quando vc tem a sua casa e seus sabores de infância para revisitar, não é que vale a pena? Só precisamos de vôos para voltar!