Sunday, September 28, 2008

Carlota - Charme na Dias Ferreira

Mais um restaurante da R. Dias Ferreira no Rio de Janeiro merece destaque por aqui. O Carlolta, talvez o mais charmoso deles, é realmente uma experiência no mínimo agradável. O salão do restaurante não tem mais de 10 mesas, em um estilo de bistrô francês, com cores mais leves e toques de cultura nordestina, tudo com a leveza de ser no Rio de Janeiro. O cardápio de lá é um desses que vc fica na dúvida do que pedir, ou que vc tem um prato que é o seu favorito, e deixar de comer ele, é uma lástima.

De entrada optamos pelo mix de rolinhos que sempre é um hit, mas tenho que deixar aqui a minha crítica a falta de couvert, fomos informados que o couvert era uma sopa, me desculpe, mas isso não é um couvert. Os rolinhos são uma mistura de todas as influências gastronômicas do menu. Rolinho vietinamita, Harumaki de Pato, bolinho de peixe com pesto, etc. Todos muito saborosos e bem executados. Destaque para o bolinho de peixe com pesto.

De prato principal eu optei pelo ravióli de emental com picadinho de filé e cogumelos paris. A massa estava leve com a suavidade do emental, mas o grande destaque ficou para o molho do picadinho, que cobria os raviólis, este era forte, profundo, com um sabor cremoso, sem essa consistência, com aquela profundidade de algo que passou horas cozinhando e como diz Sara (cozinheira da casa de minha mãe) pegando gosto. A combinação da melosidade do sabor do emental com este molho era uma combinação incrível, quase que um chamego. O resto da mesa me pareceu bastante satisfeito, destaques para o peixe com um fetutini de pupunha que estava delicioso e foi muito elogiado.

De sobremesa o irresistível suflê de goiabada com calda de catupiry, este clássico do Carlota (dizem as más línguas uma cópia de outro restaurante) é fantástico, os sabores todos nós conhecemos e gostamos, então ele transforma as texturas. A goiabada vira um creme aerado, sem perder o adocicado e o catupiry uma calda que vai molhando o suflê aos poucos o murchando na medida certa.

No final das contas o jantar é programa agradável, devido a carta de vinho um pouco cara, se torna um programa mais eventual que rotineiro, os preços são levemente salgados, mas vale a pena ir experimentar. Até porque a comida é realmente marcante.

Carlota

 Rua Dias Ferreira, 64
 Leblon - Zona Sul
Tel – 21-2540-6821

3***
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Casa de Minha Avó Maria - Luxo para poucos!

Comer bem é um dos maiores luxos que alguém pode ter, comer bem em casa é algo quase que impensável para a grande maioria dos meros mortais como eu. No entanto, eu tenho o prazer de poder, de vez em quando, devido à distância, comer maravilhosamente bem na casa de minha Avó Maria, me desculpe meu Avô, mas quando falamos de comida a casa é como se fosse só dela. Segundo ela mesma, comer desta forma é uma tradição que foi passada de mãe para filha, falando assim parece que deve ser simples fazer aquilo tudo, mas tenho dificuldade de imaginar um lugar onde se pode ao longo de anos, manter a consistência de qualidade como lá, se nem os grandes chefs, cobrando fortunas conseguem é porque isso não é nada simples.

Almoçar lá é um evento de horas, sempre começamos na varanda (que tenho que admitir era mais agradável na saudosa Albalonga) com pequenos abarás que derretem na boca, com um leve toque de dendê, ou com uma tábua de queijos e torradinhas, quem sabe um dos canapés que minha irmã adora. Um clássico que nunca falta é o Beiju de Tapioca com pastinha de parmesão, a tapioca fica crocante e tem um gosto leve que é dominado pelo sal do parmesão, poucas coisas tem tanto gosto de Bahia como isso.

O serviço lá é um capítulo a parte, Magic Mauro (como meus amigos Italianos o apelidaram, depois de um carnaval que as coisas simplesmente brotavam do chão sem nem notarmos a sua presença) é uma das pessoas mais gentis e discretas que vc vai conhecer. Sempre como seu uniforme branco, está disposto a fazer uma caipirinha, trazer uma coca-cola em um copo gigante, ou simplesmente servir água nos nossos copos durante o almoço. Não sei se sou eu que já acostumei em comer lá, mas tenho a impressão que o serviço é effortless, mas tenho certeza que não é. Ao sentar a mesa, posso notar que tudo foi pensado, da toalha que combinam com os porta-guardanapos, aos copos de vinho que combinam com a louça, mas nada de conjuntinho, e sim uma montagem muito bem feita, mas que não ofusca a grande estrela do dia: a comida. Claro quer o arranjo do centro da mesa também foi bem pensado, mas só está ali até meu Tio o tirar, pois está atrapalhando a conversa.

Se você tiver sido inteligente o suficiente, ou no meu caso já tenha freqüentando esses eventos muitas vezes, você resistiu bravamente a gula dos aperitivos e sobrou ainda um bom espaço no seu estomago. Porque nunca se come um só prato na casa de minha avó. Neste sábado, seguindo os meus pedidos, iniciamos com um Bacalhau Gomes de Sá, um prato típico português, que me perdoe o Antiquários, acho que nunca comi um tão bom. A simplicidade do preparo me deixa intrigado como as outras pessoas não conseguem chegar nem perto daquela perfeição de sabores. A batata que está al dente, contrasta com a maciez dos tomates e do próprio bacalhau (segundo minha avó ela estava preocupada, pois era a primeira vez que usava apenas o filé do bacalhau, mas depois desse almoço, acho que ele não volta mais ao velho bacalhau). O molho é quase que indescritível com a leveza do litro de azeite de oliva (azeite doce na Bahia) mas a profundidade dos legumes e peixe cozinhados por horas ali. O pãozinho torradinho que estava a nossa esquerda já tinha um destino certo, ela já sabia que seria tão bom e que não resistiríamos a limpar os pratos.

Não satisfeita com o Bacalhau, nos chega o segundo prato carne de fumeiro, com abacaxis, cebolas, farofa e feijão verde. Vou explicar primeiro o que é carne de fumeiro: uma manta de carne de porco que é meio que defumada com algumas ervas, segundo minha Vó, lembrando um pouco o processo das lingüiças, por horas e fica rosada, com aquele sabor inconfundível da fumaça, quase que doce. A carne estava um sonho, macia, leve e adocicada, acompanhava uma das farofas baianas bem amarelinhas (não, não a que vcs estão pensando com dendê, farinha boa é torradinha e já vem meio amarelada, com a mistura da manteiga ela ganha essa cor amarelo ouro, diferente do amarelo bandeira da outra farofa) e um feijão verde (não sei muito bem o que é isso, mas sempre tem lá) é como se fosse um feijão fradinho, com um molho mais leve, mais aguado, com temperos quase que refrescantes, esta combinação é perfeita com essa carne, que já tem esse gosto tão peculiar e não deve ser dominada por mais nada.

Não posso deixar de dar crédito a Dr. Aleixo aqui, meu avô que já bebe vinho tinto muito antes que taninos e carvalhos americanos e portugueses eram assuntos de mesas. Lá aprendi que vinho branco é Chablis, que vinho tinto é francês (tenho que admitir que tenho conhecido coisas fantásticas ultimamente que não são franceses, mas vamos combinar se vc só pudesses escolher uma nacionalidade era essa que vc ficaria). A seleção de vinhos de lá é sempre marcante, não porque o tanino do vinho combina com algum tempero, simplesmente porque um bom vinho sempre combina com uma boa comida.

Mas se você é realmente um expert nesses almoços, vc não se esqueceu durante o delírio acima descrito que as sobremesas lá são um capítulo a parte (mesmo eu, as vezes me perco e acabo comendo mais do que devia). Neste dia comemos uma cheesecake, que apesar de ter tido sua deliciosa crust queimada (obviamente pela coitada da ajudante, dado que minha Avó não erra) tinha o seu recheio leve, quase que com consistência de creme de leite, mas com o sabor levemente azedo do queijo, que contrastava com o doce da geléia de morango. Mas podia ter sido a deliciosa torta de amêndoas, que são descascadas uma por uma, para fazer o recheio da torta mais gostosa que conheço.

Obviamente sou viesado, pode ser que tudo isso seja na verdade melancolia de um tempo onde almoçava lá sábados e domingos, quando meus grandes problemas eram a prova de redação, e que meus finais de semana eram dominados por banhos de piscina e revistinhas em quadrinhos, onde as conversas não incluíam nem bail-out ou SELIC. Um tempo quando comer aquilo tudo era normal, que não sabia o quão especial era ter o privilégio de aprender tanto sobre comida. Só tem uma maneira de descobrir, venha você experimentar, se vc sair de lá com uma impressão diferente, acho que vou abandonar esse blog. 

Monday, September 08, 2008

Majorica - Carnívoro com Orgulho

Comer carne vermelha é um prazer que muitos criticam, as vezes eu me sensibilizo e considero a possibilidade de parar, mas isso só dura até comer uma carne impecável que me faz delirar. Poucos lugares são restaurantes completos, comida, serviço e ambiente perfeitos e por isso, quase nunca dou a cotação máxima. A Majorica no flamengo está nessa categoria cruel ontem tem um dos fundamentos (comida) incrível, mas deixa a desejar nos outros dois.

Esta tradicional churrascaria carioca fica no Flamengo, em uma rua movimentada de mais, com um serviço de manobrista completamente ineficiente, ir lá é uma escolha consciente: “vou comer uma carne maravilhosa e nada vai me atrapalhar”. O ambiente remete a uma decoração de fazenda dos anos 60, sem nenhuma reforma desde então, um pouco lúgrube, abafado e simplesmente dated. Os conservadores dirão que eu não entendo o valor da tradição, acho que existem maneiras de passar a tradição, sem a sensação de que há gordura de 50 anos atrás nas vigas de madeira expostas.

Logo ao chegar pedimos uma lingüiça de entrada que comemos com o molho a campanha. Notei que havia algo diferente no molho, era mais adocicado, pode ter sido a falta de pimentões, ou menos vinagre, mas tenho que admitir que foi o melhor que já comi. Pedimos de prato principal a ponta de picanha fatiada, com farofa de ovos, batatas portuguesas, batatas suflê e arroz de brócolis. A carne estava incrível, macia como poucas que eu já comi, e saborosa. A textura da carne era amanteigada, ao comer junto com a farofa de ovos, a carne se perdia.

As batas são quase um capítulo a parte, a batata suflê é macia no seu miolo, com a sensação que há uma leve camada de um purê de batatas no meio, e crocante nas bordas. A portuguesa é sequinha, levemente macia, como algo tão simples, pode ser tão bom!? O arroz e a farofa estavam também muito bem feitos, e combinavam bem com o resto dos nossos pratos. Para a sobremesa ficamos com banana frita e sorvete de creme, uma sobremesa quase que caseira mas que estava bem executada, sem maiores surpresas, pode ser que depois da carne e batatas, nada pudesse me surpreender.

O serviço foi irregular, com atenção por parte dos garçons em alguns momentos e falta de foco em outros. Não é um atendimento folclórico onde faz parte ser mau atendido, simplesmente um restaurante cheio com garçons que são apenas ok. No final das contas, tudo tinha valido a pena, só para comer aquela carne.

Majorica
Rua Senador Vergueiro, 15
Flamengo – Rio de Janeiro
Tel – 21- 2205-6820

3***
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