Nesses últimos meses distantes do blog eu voltei várias vezes a Roberta Sudbrack, que na minha modesta opinião, é o melhor do Rio de Janeiro. Não porque se come comida de qualidade, porque existem outras opções assim no Rio de Janeiro, mas poucas inovam com tanta freqüências e executam com tamanho primor, consistentemente, como a Roberta e sua equipe fazem. Além disso, o serviço é agradável e o ambiente super charmoso, a decoração da casinha laranja é simples, alinhada com o estilo da comida, lá a beleza da cozinha está na simplicidade dos sabores, misturados de forma magistral.
Havia algumas semanas e algumas trocas de tweets que eu só pensava em experimentar o tal dos managritos, a chef que é uma pessoa apaixonada, parecia ter achado uma nova paixão e a curiosidade me dominou. Vamos ao jantar completo. Um jantar lá começa sempre com um delicioso pão quentinho e manteiga simples e salgadinha, depois vamos aos gourgeres, versão francesa do pão de queijo que é aerado e cremoso com o sabor inconfundível do queijo, de forma mais delicada.
Para começar eu optei pelo tartare de abóbora, poderia ter repetido a maravilhosa broinha de milho com foie gras, mas aí está a graça de jantar lá, o tartare de abóbora que pode parecer menos nobre se sobressai em uma linda cumbuca preta, com pequenos quadrados, muito pequenos, que dão a abóbora uma textura durinhas, mas mastigável, com um leve molho com notas acidas, que contrastavam com a doçura natural da abóbora. Eventualmente vc comia uma semente torrada, que era sequinha e macia. Não tinha nada de mais, mas existia algo de poético em como os sabores e texturas se opunham.
Depois disso fomos impressionados por um lindo e suculento aspargos brancos, que tem uma textura um pouco diferente do normal, menos fibroso, mais macio, uma com uma calda de amendoim e um pouco de amendoim picado. O amendoim tem ma profundidade que normalmente dura na sua boca, mas com o aspargos isso era relativizado, criando mais uma delicia.
Passamos para um enrolado de lagostin, em uma lamina de chuchu com um caldo de lete de amendoim. Aqui de novo a “pegajosidade” do amendoim é o elemento que contrasta com o sabor afiado de um fruto de mar fresco, que por sua vez também está suavizado pelo chuchu, que envolve. Esse prato é um daqueles exepcionalmente simples, mas muito bom.
Chegou a hora das estrelas da noite, o raviole de mangaritos em 3 texturas, o badalado e sazonal ingrediente é um tubérculo pequeno com uma casca preta, que quando assada exala um cheiro de chocolate e café – não sou muito de sentir essas coisas em vinhos por exemplo, mas nesse caso é claro. O prato é um raviole de purê de mangaritos, pedacihos da casca torrada, e pequenas fatias dos mangaritos assadas salpicadas por cima. O sabor do mangarito é algo especial, tem as caracteristicas das grandes iguarias do mundo, no sabor uma riqueza de gordura própria que faz este durar na sua boca tempos depois de vc ter comido. O raviole sem molho apenas a manteiga que os mangaritos produzem estava divino, a combinação das texturas da casca, dele assado e do purê se balanceavam. Mas o impressionante é a capacidade de prencher sua boca de forma completa que o purê tem, como se vc estivesse entrando em uma jacuzzi em uma estação de esqui. Quando vc combinava isso com a casca, o sabor extremamente térreo desta trazia um contraste ao véu aveludado que era formado na sua boca. Tive o prazer de comer um segundo prato, graças a delicadeza da chef diante do meu encantamento, adoro esses mimos. A noite estava ganha, correto?
Ah não, isso é o melhor restaurante do Rio, não basta uma surpresa na noite ainda havia o prato principal uma barriga de porco com as batatas fritas de lá. A pele era sequinha, me lembrou muito o pato laqueado chinês, era crocante e quando vc cortava encontrava uma carne macia e profunda, com um sabor terno. Este foi um dos melhores porcos que eu já comi na minha vida. Imagino que a expressão orgamos múltiplos podia ser usada nesses último jantar, porque nada pode ser tão prazeroso assim. Eu estava absolutamente inebriado de tantos sabores e descobertas.
Ainda fomos presentados com um sorvete de banana manchadinha que era algo de transcendental, estava diante de mim o sabor do doce de banana mais caseiro que já comi, no entanto, sem o excesso de açúcar que os acompanha, apenas a doçura natural. O sorvete adquire uma textura mais densa, mas ainda há ali o frescor de um belíssimo sorvete de fruta. Quem disse que só de comida salgada se vive?
A sobremesa era uma creme de chocolate amargo, com uma pele de leite e pedacinhos de chocolate. Meu pai, que me acompanhou, e que é chocolatra em alto teor, gemeu! Ao final ele falou: “Tenho uma teoria política: O FHC se candidatou a reelicao por causa da chef”. O programa não é barato, that is for sure, mas para quem gosta de comida no Rio de Janeiro não há nada igual! Um jantar lá é como os violinos em Elenor Rigby dos Beatles, simplesmente emocionante.
Roberta Sudbrack
Av. Lineu de Paula Machado, 916
Jardim Botânico – Rio de Janeiro
Tel : 21- 3874-0139
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